Embora não pareça, o
medo é uma das maiores pragas da humanidade, mas como tudo na vida, é também
uma das melhores ferramentas para nossa evolução, é uma moeda com cara e coroa.
Neste artigo discutiremos apenas um lado desta moeda que é o medo de amar.
O medo tem como
principal características a defesa contra o sofrimento, e surgiu nos primórdios
de nossa existência como um suporte para o instinto de preservação e
perpetuação da espécie, nesse aspecto o medo é positivo, mas no desenrolar de
nossa evolução essa sensação adquire as vestimentas da personalidade de cada
indivíduo, e uma destas vestes é sem dúvida o falseamento da realidade
espiritual do ser.
Podemos começar
analisando a questão do egoísmo. Antes do início desta análise, porém gostaria
de chamar a atenção para uma expressão que usei neste texto anteriormente,
classifiquei o medo como uma sensação e não como um sentimento, são duas coisas
diferentes, os sentimentos embora sofram transformações radicais não se
extinguirá, ao passo que a sensação é um suporte para os sentimentos e se
extinguirá quando se tornarem desnecessários para esses sentimentos.
Isso posto voltemos a
nossa análise; o egoísta tem interesses opostos ao amor cultivando a cultura da
concentração de valores materiais, quanto o amor estimula a divisão de todos os
valores, se a pessoa tem a crescente necessidade de acumular bens, como poderia
dividir esses bens com os outros? Esta é
uma situação onde o medo dá suporte ao egoísmo, mascarando a necessidade de
amar.
O amor sendo uma
herança do criador e objetivo principal das leis naturais lateja dentro de cada
ser com a força de um furacão tentando se tornar dominante nas paisagens da
vida, sendo assim uma pressão natural exercida de dentro para fora. O egoísmo é
a barreira que bloqueia a expressão deste amor fraterno, mas este amor sendo o
objetivo principal de nossa existência é impossível de ser barrado e continuará
eternamente forçando sua passagem obrigando o egoísta a buscar subterfúgios que
justifique seu desamor. Várias formas de válvulas de escape são usadas pelo
egoísta; alguns se agarram na ardência das paixões carnais, outros se
justificam dizendo que amar é para os inocentes, outros dizem que agem por amor
aos filhos, sem querer enxergar que o maior legado deixado aos seus não são
bens matérias e sim a depuração dos sentimentos que deverá proporcionar um dia
a paz interior e a felicidade real.
Em relação aos
sentimentos sabemos que os iguais se atraem o que levam os egoístas a se
reunirem em torno do egoísmo formando verdadeiras falanges onde uns apoia os
outros nas justificativas de seus desmandos. Aqueles que conseguem uma posição
mais privilegiada dentro do grupo despertam a inveja e a admiração dos outros
que passam a bajula-lo no intuito de conseguir migalhas lançadas pelo mais
abastado, e este por sua vez, considerando esta adoração como uma forma de amor
se sente satisfeito e procura agradar o adorador com as migalhas requeridas
perpetuando assim a máscara emprestada ao verdadeiro amor. É uma troca de
favores, onde o impulso que leva a suposta doação é o interesse próprio e não
amor.
O amor brota da gratidão
assim indiferente dos interesses que regem a relação entre duas ou mais
pessoas, se esta relação for agradável às duas partes ou a qualquer uma delas,
daí pode surgir a gratidão e consequentemente o amor.
A gratidão é um
sentimento da alma e como tal surge de forma espontânea sem passar pelo crivo
da consciência objetiva, assim como os outros sentimentos, a gratidão é de
caráter eterno e tende sempre a crescer se manifestando como amor, podemos
citar como exemplo, o filho ingrato que enquanto seus pais são vivos se rebelam
trazendo aborrecimentos e sofrimentos, mas quando seus pais morrem sentem no
peito a força do arrependimento e só então percebem com tristeza o quanto os
amavam.
Quando no momento do
ato sexual dizemos com frenesi, eu te amo, estamos na verdade pedindo a outra
pessoa que nos ame, e que precisamos dela para continuar a ter acesso ao prazer
que estamos tendo naquele momento, é o contrário do que ocorre quando com carinho
afagamos os cabelos de alguém encostando sua cabeça em nosso colo, isto quer
dizer venha até mim que eu te apoio e te protejo, esta é a manifestação de um
amor mais profundo.